O ano de 2017 foi uma prova de fogo para os empresários brasileiros. Eles tiveram que apertar os cintos e reduzir os custos enquanto muitos clientes deixaram de comprar graças a uma taxa de desemprego que atingiu 14 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nesse cenário de grande instabilidade política e econômica, muitos fecharam as portas, enquanto outros se mantiveram em atividade mesmo sem lucro, esperando a crise passar. Alguns setores até estão crescendo, como é o caso do turismo, da indústria e da agropecuária. Já o setor de comércio e de serviços deu seus primeiros sinais de retomada no 2º semestre, com projeções de crescimento entre 1 e 2%, considerando a perspectiva de diversos órgãos especializados como o Banco Central e a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.
Com um bom planejamento estratégico, o empresário conseguirá enxergar melhor os desafios das pequenas empresas para 2018.
Contribuição com a retomada da economia
A projeção de alta do Produto Interno Bruto (PIB) para 2017 até o fim do 1º semestre era de 0,39%. Para 2018, espera-se um importante respiro: um aumento de 2%. Uma vez que as PMEs são responsáveis por 27% do PIB, as expectativas de crescimento são tímidas, mas reais.
Como podemos, então, contribuir com a retomada da economia no próximo ano?
Para fazer o negócio crescer, não há outro caminho senão investir. E essa palavra pode parecer distante com tantas empresas endividadas, no limite de crédito e aprisionadas por juros altos. No entanto, vale a pena refletir se essa situação se deve exclusivamente à crise ou se pode ter sido agravada por erros de gestão, cujos impactos estão mais evidentes e fáceis de serem percebidos e corrigidos.
É em meio a esse dilema que se comprova a máxima: “a crise é fonte de oportunidades” — mas só para quem se dispõe a aproveitá-las. No momento, é imprescindível construir um planejamento estratégico consistente. Por planejar, entende-se pensar antes de agir. O mercado está instável demais para absorver o risco de ações impulsivas.
O planejamento
Quando fazemos um bom planejamento estratégico, obtemos uma visão mais realista sobre a saúde da empresa:
- analisamos o mercado, identificando riscos, demandas e oportunidades;
- e visualizamos, de maneira profissional:
- a lucratividade;
- a rentabilidade;
o faturamento; - os custos fixos;
- os custos variáveis;
- e os prejuízos.
Todo esse processo de investigação pode ser uma rica jornada com novos olhares para nossa estrutura operacional, situação financeira e estratégias de mercado, identificando o que pode ser aperfeiçoado ou modificado com o menor custo possível.
O raio-x completo pode proporcionar perspectivas surpreendentes de crescimento.
Uso da tecnologia digital para vender mais
Enquanto as PMEs produzem 27% do PIB brasileiro, nos Estados Unidos essa contribuição é de 50%, segundo a Agência Norte-Americana para os Pequenos Negócios. Em geral, a diferença se deve ao investimento em inovações tecnológicas.
Entre 2010 e 2014, estima-se que o movimento nas lojas físicas americanas tenha caído 52%, enquanto o faturamento cresceu 15%, de acordo com a RetailNext.com.
Tudo por conta de tecnologias digitais que garantem personalização de ofertas e interação com as pessoas com base em estudos de comportamento via modelos matemáticos.
O omnichannel
Chamamos esse fenômeno de omnichannel, que prega a integração total dos canais de contato com o consumidor, tanto físicos quanto digitais.
A ideia é que ele seja envolvido por uma experiência de compra totalmente informatizada e sem fronteiras, unindo compra, serviço e relacionamento em uma única plataforma de negócios capaz de atender todas as suas necessidades.
Por uma questão de adaptação cultural e de infraestrutura de dados, é possível que a chamada “omnicanalização” plena demore a se estabelecer no Brasil, mas é uma questão de tempo.
Quem se antecipar a essa tendência poderá contar com grandes vantagens futuras.
Adaptação à Reforma Trabalhista
A Reforma Trabalhista entrou em vigor em novembro último. A expectativa é de revisão completa dos postos de trabalho, com novas modalidades de contrato e relações corporativas mais flexíveis.
O grande desafio para as empresas, nesse momento, é usufruir dessa flexibilidade de maneira sábia para não perder o engajamento e o compromisso das suas equipes.
A insegurança jurídica e a instabilidade financeira tende a abalar a confiança de empregados, e esse pode ser o momento de oferecer condições estratégicas para captar os melhores talentos.
As relações de trabalho
De acordo com relatório da consultoria Deloitte, 64% das PMEs que mais crescem no Brasil afirmam investir na formação de profissionais capacitados para lidar com a maior quantidade possível de desafios.
Além disso, elas identificam a falta de mão de obra qualificada como fator crítico na redução das margens de lucro totais e na queda da produtividade.
Ou seja: se você é empresário e vê as mudanças da Reforma Trabalhista exclusivamente como uma novidade para precarizar empregos e reduzir custos, é bom repensar.
Toda mudança cultural é lenta, e lidar com a insatisfação do trabalhador brasileiro nesse cenário é uma tarefa que exigirá muitas ações de endomarketing — e, claro, garantia de remuneração e de benefícios atrativos.
Ajuste às mudanças tributárias
Além da Reforma Trabalhista, o empresário brasileiro precisará lidar com muitas mudanças tributárias em 2018. A adaptação exigirá uma revisão minuciosa dos seus regimes fiscais para planejar as metas de crescimento.
A mudança no Simples Nacional
As empresas enquadradas no Simples Nacional deverão rever cálculos de faturamento atual e de projeções para escolher o regime tributário mais adequado à realidade da empresa.
O teto de faturamento para MEs e EPPs aumentou de R$ 3,6 milhões para R$ 4,8 milhões. Já o teto para MEIs subiu de R$ 60 mil para R$ 81 mil.
Com as mudanças, a recomendação para esse momento é simular todos os cenários possíveis para ter a certeza de que continua valendo a pena ser tributado pelas regras do Simples Nacional, sob risco de aumento da carga de impostos sobre o lucro presumido ou sobre o lucro real.
Já as faixas de alíquota para cobrança dos impostos foram reduzidas de 20 para 6, de modo que as regras de cálculo ficaram mais complexas. Para entender o possível impacto sobre as contas da sua empresa, procure se informar com o seu contador.
Outra novidade do Simples é a inclusão de novos negócios entre as atividades contempladas. É o caso de:
- consultorias;
- pequenos produtores de bebidas alcoólicas;
- prestação de serviços intelectuais, culturais e artísticos;
- representações comerciais;
- serviços médicos.
Para as startups em busca de investidores-anjo, uma boa notícia: a partir de agora eles poderão se vincular ao negócio sem necessidade de figurar no contrato social como sócios-administradores.
A medida deve aumentar a segurança da transação para ambas as partes, estimulando os investimentos.
O fim da desoneração da folha de pagamento
No dia 1º de julho de 2017, entrou em vigor a suspensão de desoneração da folha de pagamento para vários setores. Com a alteração, empresas que haviam sido desobrigadas de recolher 20% de contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento tiveram o benefício revogado. A justificativa foi a contenção do rombo fiscal nas contas do governo federal.
Apenas alguns setores permanecem com a desoneração:
- construção civil e obras de infraestrutura;
- empresas jornalísticas e de radiodifusão;
- transporte ferroviário, metroviário e coletivo.
O empresário que era beneficiado pela desoneração pode rever o seu quadro de funcionários e optar pelos acordos permitidos pela Reforma Trabalhista para evitar demissões, que desaceleram o crescimento.
O ideal é incluir esses cenários entre os diversos fatores a serem analisados no seu planejamento estratégico.
Diante de todos os desafios para pequenas empresas em 2018, você se sente preparado crescer? O importante, nesse momento, é estudar muito todos esses cenários e contar com a ajuda de especialistas e de metodologias de gestão que podem ajudar a tomar as melhores decisões.
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